Rodrigo Maia quer jogar bola sem sujar a roupinha de marinheiro que mamãe lavou

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Rodrigo Maia (Foto: LULA MARQUES)

Rodrigo Maia quer jogar bola sem sujar a roupinha de marinheiro que mamãe lavou

Para Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, “Rodrigo Maia se acha o dono do jogo. Tenta agradar a gregos e troianos. Quer chegar lá, onde o pai sonhou e não conseguiu. Porém, é preciso que alguém lhe avise ser impossível agradar a Deus e o diabo na terra do sol”

5 de agosto de 2020, 18:33 h Atualizado em 5 de agosto de 2020, 19:20

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) cumpriu mandato tampão de pouco mais de seis meses para a presidência da Câmara dos Deputados no ano de 2016, quando o cargo ficou vago com a renúncia do deputado Eduardo Cunha, que o deixou sob pesadas acusações. Uma delas, a de manter um batalhão de deputados do centrão e do baixo clero, sob o seu rígido controle (segundo denúncias, pagando pelos serviços). Cunha os levava a votar favoravelmente em todas as pautas que determinava e que ficaram conhecidas como “pautas bombas”. Tinham tamanha consequência de aumento de gastos para o governo da então presidente Dilma Rousseff, que imobilizaram todas as suas ações, aumentando nas ruas o volume dos gritos pela aprovação do seu impeachment.

Ao final do mandato tampão, o deputado Rodrigo Maia foi reeleito presidente da Câmara por mais dois anos e, finalmente, para a terceira e derradeira eleição, pelas regras da casa onde ficará com o comando até 31 de janeiro de 2021.

Sobre a sua atuação, sempre se soube que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma, mas desde segunda-feira (dia 3), depois da sua passagem pelo programa “Roda Viva” (da TV Cultura), que o fez com muita convicção e não está arrependido. E mais: entre a presidente e Jair Bolsonaro, prefere enxergar “crime”, onde nem mesmo a Justiça, hoje, reconhece existir: no mandato da ex-presidente. Portanto, não vê motivos para tirar da gaveta os cerca de 50 pedidos de impeachment contra Bolsonaro e nem tampouco consegue apontar, contra ele, nenhum atentado à Constituição, a ponto de colocar em votação o impedimento de continuidade do seu mandato.

Elementar. Rodrigo Maia é economista por formação, e economistas, como se sabe, são peritos em reconhecer números, tabelas, cálculos, e não leis. Em cada pedido de impeachment direcionado à Câmara, está um elenco de exposições de motivos, com base em leis, e esta definitivamente não é a sua praia. Como entende de cálculos e não de leis, Rodrigo Maia tenta manter-se em cena como o “corretinho”, preocupado com as “questões sociais do país” durante uma pandemia que já matou, no Brasil, mil vezes  mais que a tragédia do Líbano, onde, calcula-se, já morreram 100 pessoas pela explosão que abalou o mundo. Aqui, onde morrem em média 1.200 por dia, o governo não se espanta e nem sequer se mobiliza.

Rodrigo fala na pandemia, mas comporta-se de acordo com os seus princípios liberais e de frente para o painel da Câmara, onde quer os votos alinhados com esses princípios, favoráveis às reformas propostas pelo ministro Paulo Guedes, ao mercado financeiro e aos empresários a quem visita de quando em vez, para combinar as próximas jogadas. A principal delas, manter a “casa arrumada” e Bolsonaro “no jogo” , enquanto prepara o seu sucessor e, talvez, uma chapa onde conste o seu nome como candidato.

Com a veemência com que negou que trabalhe a sua reeleição para a Câmara, onde, frisou, tem “muito poder” (e quem não está vendo?), a próxima jogada é montar a chapa com um dos nomes citados por ele, que despontam no DEM, o seu partido. Talvez o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Enquanto isto, vai fingindo preocupação com os rumos da Covid-19. Fossem verdadeiras as suas inquietações, e não hesitaria em trabalhar a saída de Bolsonaro do cargo.

Não só Rodrigo, mas a torcida do Flamengo e todos os habitantes desse país sabem que o principal fomentador da doença no Brasil é ele: Jair Bolsonaro. Tivesse mesmo muito preocupado com os rumos que o coronavírus está tomando por aqui, e já teria colocado em votação um dos pedidos de impeachment. Como a sua hesitação nada tem a ver com a pandemia, mas com os seus “cálculos”, Maia não quer levar no currículo a queda de um presidente.

Em nota, a ex-presidente Dilma, a quem Rodrigo Maia voltou a atacar durante o “Roda Viva”, mandou-lhe um recado: “Não surpreendem as declarações do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) reiterando sua posição favorável ao meu impeachment e descartando a possibilidade de abrir um processo de afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência da República. O deputado não tem compromisso com a democracia ou com o povo brasileiro. Seu compromisso é com a manutenção da atual política econômica, responsável pelo aumento da desigualdade social e com a agenda neoliberal nefasta imposta pelo ministro Paulo Guedes”.

Não só. Rodrigo Maia, lembremos, faz cálculos. Até lá, age como o personagem “Quico” da série mexicana “Chaves”. Quem tem filhos ou netos saberá de quem estamos falando. Para os que não têm, “Quico” é o menino rico, do final da rua, que tem a bola de couro e organiza a pelada, quando está a fim de brincar. Rola a bola num jogo rasteiro, para não sujar o conjuntinho à “marinheiro”, que mamãe mandou lavar e passar. Nada de voleios. Quando não está mais a fim, recolhe a bola, deixa os meninos pobres reclamando e vai para casa. Ele é o dono da bola. Rodrigo Maia se acha o dono do jogo. Tenta agradar a gregos e troianos. Quer chegar lá, onde o pai sonhou e não conseguiu. Porém, é preciso que alguém lhe avise ser impossível agradar a Deus e o diabo na terra do sol

Denise Assis Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964” e “Imaculada”. Membro do Jornalistas pela Democracia

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