A Presença das Televisões Católicas no Brasil, por Marcos Vinicius de Freitas Reis

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A Presença das Televisões Católicas no Brasil, por Marcos Vinicius de Freitas Reis

A contra reação da Igreja Católica foi imitar a estratégia dos evangélicos pentecostais e neopentecostais. Iniciou a solicitação de pedidos de concessão de televisão própria do governo federal.

 Jornal GGN 10/06/2020

 

Religião e Sociedade na Atualidade

Esta semana está sendo marcada pela polêmica envolvendo algumas emissoras de televisão de inspiração católica e o governo federal. Saiu em alguns órgãos de comunicação de circulação nacional que algumas emissoras católicas em reunião com o presidente Jair Bolsonaro solicitaram verbas públicas para suas emissoras resolverem os problemas financeiros que surgiram em função do coronavirus, em as televisões dariam apoio explícito em seus telejornais para as ações do governo federal.

A necessidade da Igreja Católica em investir em meios de comunicação é algo muito recente. Até a década de 1990, o Brasil era considerado um país de hegemonia católica. Não havia competição entre os grupos religiosos acirrado naquela época como temos hoje. O monopólio católico no Brasil não exigia que tivesse seus próprios meios de comunicação. A própria mídia secular cobria a agenda institucional da Igreja Católica, a exemplo dos anúncios da campanha da fraternidade, a agenda das festas religiosas, noticiavam a agenda do Papa, dentre outras informações que fossem necessárias.

Com o crescimento dos evangélicos no Brasil, viram nos meios de comunicação uma forma de expansão de suas atividades religiosas e econômicas. Conseguiram concessões de televisões ou locação de espaços para programas de suas igrejas em emissoras que já estavam em funcionamento. Isto levou a uma queda substancial de católicos no Brasil. Muitas pessoas por meio da televisão consumiam suas identidades religiosas.

A contra reação da Igreja Católica foi imitar a estratégia dos evangélicos pentecostais e neopentecostais. Iniciou a solicitação de pedidos de concessão de televisão própria do governo federal. A primeira emissora de TV em cadeia nacional com programação católica foi a Rede Vida fundada em 1995 na cidade de São José do Rio Preto. Todas as dioceses do Brasil ajudaram na compra dos equipamentos necessários para que as suas cidades pudessem ter acesso a programação religiosa. Logo em seguida tivemos a popularização de outras emissoras católicas ou o surgimento de outras: TV Século XXI, TV Canção Nova, TV Horizonte, TV Nazaré, TV Aparecida, TV Imaculada, TV Pai Eterno, TV Evangelizar, Católica TV, dentre outras.

A programação das emissoras citadas no parágrafo anterior é basicamente a transmissão de missas, terços, programas femininos, novelas, filmes, programas catequéticos, programas infantis, telejornais e programas esportivos. A proposta que toda a grade de programação seja extensão das atividades religiosas desenvolvidas nas comunidades católicas adaptadas para uma linguagem televisiva. Em termo de audiência o retorno é muito baixo. A programação não desperta o interesse do grande público. O público algo são católicos praticante.

Algumas emissoras católicas são gerenciadas por grupos ligados ao movimento da Renovação Carismática Católica (RCC) ou nas emissoras tem programas de inspiração carismáticas em função da possível audiência entre o pública católica que devem conseguir. Não é à toa que a Rede Vida transmite as missas do Pe. Marcelo Rossi aos sábado à tarde.

A RCC tradicionalmente é um movimento religioso conservador. Em muitos aspectos parece com os evangélicos. Utilizam cânticos animados em suas reuniões oracionais, instrumentos eletrônicos, danças, palestras, orações espontâneas e o uso dos dons do espirito santo (profecia, oração em línguas, cura, exorcismo, dentre outros). Defendem muito a pauta de costumes e politicamente são alinhados ideologicamente conservadores de direita.

O atual governo federal é essencialmente conservador e em termos de ideias aproxima da forma de pensar dos carismáticos. São favoráveis a escola sem partido, combatem a ideologia de gênero, militância contra o comunismo, defendem ensino religioso confessional, contra a ampliação dos direitos da comunidade LGBT e a legalização da maconha. Há afinidade ideológica e política.

Com aproximação no plano das ideias políticas não é de assustar que algumas emissoras de televisão católica possam ter alguma forma de simpatia pelo atual governo, ou que pediram o apoio financeiro para custear suas atividades. Todo órgãos de comunicação tem suas predileções políticas e posicionamento a respeito de temas políticos, econômicos e social.

O que estamos percebendo é a utilização das mídias religiosas para justificar atitudes políticas. Novamente religião e política se misturam. Esta associação em meios de comunicação é um retrocesso ao fortalecimento da laicidade do Brasil.

Marcos Vinicius de Freitas Reis – Professor da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) do Curso de Graduação em Relações Internacionais. Possui graduação em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Doutor em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente do Curso de Pós-Graduação em História Social pela UNIFAP, Docente do Curso de Pós-Graduação em Ensino de História (PROFHISTORIA). Membro do Observatório da Democracia da Universidade Federal do Amapá. Docente do Curso de Especialização em Estudos Culturais e Políticas Públicas da UNIFAP.  Líder do Centro de Estudos de Religião, Religiosidades e Políticas Públicas (CEPRES-UNIFAP/CNPq). Interesse em temas de pesquisa: Religião e Politicas Públicas.

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