Ditadura explicita deixa de ser uma hipótese distante e remota

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Ditadura explicita deixa de ser uma hipótese distante e remota

A despeito de o Supremo ter participado do golpe contra Dilma e manter o ex-presidente Lula preso de forma abjeta, sabendo que ele não cometeu o crime pelo qual foi condenado, isso não é bom para o fiapo de democracia que restou ao Brasil nos embates dos últimos três anos. A ditadura explícita é muito pior do que isso. E para ser explícita ela precisa mudar ou fechar este Supremo para depois ir para cima do Congresso

Por Renato Rovai

Um golpe não é, um golpe vai sendo.

Desde antes do impeachment ilegal e canhestro aplicado pelo lavajatismo, a mídia e políticos oportunistas que escrevo isso quase como um mantra.

Um golpe começa com um alvo e vai ampliando seus objetivos até engolir parte, inclusive, dos que participaram da armação. Até mostrar aos ingênuos e mal intencionados que eles foram usados de diferentes maneiras para que o arbítrio se consolidasse.

Só pra ficar em dois exemplos de 1964, os jornais que defenderam o golpe militar, depois foram censurados pelos ditadores. Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara, que achou que seria o beneficiado imediato da queda de Jango foi perseguido e acabou sofrendo um “acidente” que o levou a morte.

O golpe 16 não está sendo diferente. Ele, que era só para tirar a Dilma e levar o Brasil a voltar a crescer, se tornou um monstro que já engoliu vários algozes da ex-presidenta.

Só para ficar em três exemplos, os tucanos foram dizimados na eleição de 18, Temer já tem vários inquéritos nas costas e teve que passar uns dias na prisão e a Globo que achava que ia ser dona do butim, atualmente recebe menos verba publicitária do governo federal que Record e SBT.

Mas isso não é o mais importante.

O que mais chama a atenção é que os verdadeiros beneficiários do golpe parecem não estar satisfeitos com o que conseguiram e querem muito mais.

Primeiro é o Supremo, depois o Congresso
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal, mesmo quando acovardados e cúmplices da tragédia, nunca são preservados em regimes autoritários. E o episódio de ontem de guerra explícita entre Alexandre de Moraes e Dias Toffoli contra o lavajatismo e parte dos militares deixou isso claro.

Ao que tudo indica, como ontem já havia alertado em artigo para este blog, o episódio da censura de reportagem de O Antagonista (repito o que disse ontem, não consigo achar outra palavra que não seja censura para definir o que ocorreu) não deveria ser analisado sem as suas circunstâncias.

O que parece estar por trás é uma guerra entre o lavajatismo e o Supremo, com destaque especial para o seu presidente, Dias Toffoli, que é tratado como inimigo pela turma de Curitiba.

Uma reportagem do Buzz Feed de ontem, cuja fonte provavelmente foram os ministros Dias Toffoli, Alexandre de Moraes ou alguém muito próximo a eles, revelou que a citação que levou à matéria de Crusoé, “o amigo do amigo do meu pai” teria sido uma exigência dos procuradores de Curitiba pra que Toffoli ficasse refém deles se porventura viesse tentar algo a favor de Lula.

Ou seja, olhar a floresta é sempre melhor do que ficar apenas focando na árvore.

Se for ao menos meia verdade, já é um escândalo.

Junte-se a isso a reação do general Paulo Chagas à operação de busca e apreensão na sua casa e o pedido que seria protocolado hoje pela manhã – e foi adiado – de impeachment dos ministros Moraes e Toffoli assinado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Lasier Martins (Podemos-RS), Jorge Kajuru (PSB-GO) e Reguffe (sem partido-DF), e já se pode dizer no mínimo que o episódio de ontem não foi apenas um caso de censura.

Guerra nos porões do golpismo
O que está acontecendo é uma guerra nos porões do golpismo. O grupo da Lava Jato que opera também no Congresso e na mídia, com senadores como Randolfe Rodrigues e veículos como O Antagonista, parece ter se juntado com parte das Forças Armadas para combater Toffoli e o Supremo.

O presidente do Supremo ao decidir reagir com seu mais novo escudeiro, Alexandre de Moraes, foi ingênuo e partiu para a guerra jogando como se combatesse a esquerda ou o PT. Se deu mal.

O outro lado parecia já ter informações de que faltava apenas algo como a reportagem publicada para que Toffoli mordesse a isca e pudesse ser pescado com a solidariedade de muitos.

Se Toffoli imaginava que mostraria força ao encarar a batalha, saiu-se bem menor e fraco dela.

A Lava Jato e os militares mostraram que ainda têm bala na agulha.

Nos próximos dias o cerco pode se fechar contra o Supremo com o avanço desse pedido de impeachment e mais uns enquadros de generais daqui e de acolá.

A despeito de o Supremo ter participado do golpe contra Dilma e manter o ex-presidente Lula preso de forma abjeta, sabendo que ele não cometeu o crime pelo qual foi condenado, isso não é bom para o fiapo de democracia que restou ao Brasil nos embates dos últimos três anos.

A ditadura explícita é muito pior do que isso. E para ser explícita ela precisa mudar ou fechar este Supremo para depois ir para cima do Congresso.

Os autoritários não sabem governar com limites institucionais. Entre outras coisas porque pretendem enfiar goela abaixo do povo medidas impopulares e ilegais.

O que está em jogo não é apenas a censura a um veículo de comunicação de especuladores, como tentei dizer ontem.

Esta crise atual pode nos levar a afundar muito mais no poço que foi cavado por alguns que hoje estão sendo engolidos por ele. É uma crise dentro da crise.

E neste grave momento do país as esquerdas e o campo progressista se tornaram apenas espectadores. Só estão conseguindo olhar e torcer, esperando que o pior não aconteça. Não é culpa de ninguém. A situação é que é grave demais. E a política se tornou um mero detalhe.

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