Alckmin e a armadilha dos vices

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Alckmin e a armadilha dos vices

Por PAULO MOREIRA LEITE no facebook 

Há uma questão incontornável em torno da indicação de Geraldo Alckmin para candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva.

Recrutados para servir como aliados leais, destinados a garantir a estabilidade de um governo eleito e sustentar o titular, nossos vices escreveram uma história política muito mais complicada — e não é preciso recordar o criminoso papel de Michel Temer para compreender isso.

Num país onde a classe dominante devota um compreensível receio diante da soberania popular, explicado por uma conhecida dificuldade para exercer o poder de Estado pelas vias consagradas da democracia, o cargo de vice-presidente tem funcionado como a solução de emergência a ser utilizada quando o titular não corresponde às necessidades do andar de cima.

Apontados, formalmente, para ocupar o banco de reservas do cargo número 1 da República, função que pode ser justificada em diversas circunstâncias, frequentemente os vices assumem o papel de cães-de-guarda da velha ordem, assegurando, em caso de necessidade, que uma eventual substituição do titular, mesmo de modo injusto e truculento, possa ser processada sem atropelos ou contestações — ou até com vantagens em comparação com o antecessor.

Um caso exemplar foi de Café Filho, imposto por Adhemar de Barros na chapa de Getúlio Vargas, em 1950. Na primeira crise grave do governo — provocada pelo atentado da rua Toneleiros — Café Filho já mudou de lado e queria convencer Getúlio a renunciar a presidência, comprometendo-se a fazer o mesmo e convocar novas eleições. O presidente nãoi aceitou mas o vice não desistiu.

Chamado a substituir Getúlio após o suicídio, Café Filho já tinha um novo governo pronto para ser empossado, integrado por conspiradores de primeira ordem para ocupar o ministério e derrubar a herança recebida.

No fim de uma presidência caída do céu, quando uma vitória de Juscelino nas urnas anunciava a continuidade do getulismo, Café Filho integrou-se a uma conspiração destinada a impedir a posse de JK.

Seu papel foi simular uma doença que lhe permitiu licenciar-se do posto e entregar o cargo a Carlos Luz, presidente da Câmara, golpista sem nuances. Quem conhece a história sabe que, no último capítulo, foi preciso contar com a intervenção do Marechal Henrique Lott para impedir o vexame. Só assim o candidato vitorioso nas urnas foi empossado.

O próprio JK viveu uma situação com semelhanças e diferenças. Como Getúlio, foi alvo de conspirações permanentes para afastá-lo do cargo, até antes da posse.

Ao contrário de Getúlio, JK possuía um vice, João Goulart, que era um puro sangue do trabalhismo. Do ponto de vista dos adversários, tirar JK para dar posse a Jango era igual a trocar 6 por meia dúzia — quem sabe, por uma dúzia.

Embora tenha sido alvo de permanentes iniciativas golpistas, era óbvio que, do ponto de vista de um projeto à direita, seria impensável descartar JK para empossar Jango.

Os vices  tem essa utilidade: oferecem uma saída funcional para um movimento que tem origem golpista mas pode ser chamado de institucional. Tudo parece ter acontecido dentro da lei — inclusive uma operação vergonhosa como o golpe que derrubou Dilma. Aí reside a armadilha.

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