#Vazajato: O Procusto de Curitiba

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#Vazajato: O Procusto de Curitiba

por Arnobio Rocha

Procusto, segundo Junito de Sousa Brandão, “simboliza a banalização, a redução da alma a certa medida convencional”. Trata-se, no fundo, como asseveram com propriedade Chevalier e Gheerbrant, da perversão do ideal em conformismo.

Por Jornal GGN – 05/07/2019

#Vazajato: O Procusto de Curitiba

A matéria da Veja tem uma armadilha logo no título: “Justiça com as próprias mãos”. Em si, não parece uma condenação para os fãs do ex-juiz, que entenderão de forma invertida, de como ele foi heroico em enfrentar a corrupção, pois não refletirão de que corromper a justiça é mais grave do que a corrupção, mesmo quando diz combater.

O ex-juiz me remete imediatamente ao personagem mitológico, Procusto, aquele que estica.

Procusto julgava suas vítimas e as punia para que adequasse a um padrão próprio. Ele tinha duas camas, uma pequena e uma grande. Quando o punido era pequeno, punha-o numa cama grande e esticava-o para caber nela, ao contrário se era grande, levava-o para cama menor e cortava os membros até ficar no tamanho certo.

Esse rigor moral dá dimensão do autoritário, eme que a vida tem que se adequar aos padrões estritos, que tudo deve ser feito e levado para ficar na forma ideal que lhe convém.

Procusto, segundo Junito de Sousa Brandão, “simboliza a banalização, a redução da alma a certa medida convencional”. Trata-se, no fundo, como asseveram com propriedade Chevalier e Gheerbrant, da perversão do ideal em conformismo. Procusto configura a tirania ética e intelectual exercida por pessoas que não toleram e nem aceitam as ações e os julgamentos alheios, a não ser para concordar. Temos, assim, nessa personagem sanguinária, a imagem do poder absoluto, quer se trate de um homem, de um partido ou de um regime político.

Ora, a revista Veja tem um público cativo que é semelhante ao juiz, faz sua redução moral própria, em todo momento namora abertamente com ideias neofascistas, autoritários, sem jamais se olhar no espelho. Por décadas abraçou o combate ao petismo, a Esquerda como ideal, não importando os meios. Acordaram, agora, com um governo autoritário de verdade que ameaça a todos, inclusive a revista?

A matéria traz explicitamente as relações ilegais e perversas entre os membros da chamada “República de Curitiba”, uma sociedade do anel, todos unidos com um objetivo, falso, de combate à corrupção, em que aceitam todas as delações que levassem ao ex-presidente Lula, mas se nega categoricamente, por exemplo, que tenha a delação de Eduardo Cunha, por quê?

A maneira como é conduzido o processo embrulha o estômago de quem atua no mundo jurídico. A defesa do ex-presidente já denunciava o conluio há muito tempo, com ajuizamento de ação na ONU de que estava diante de uma farsa, bem urdida, que contou com a mídia, com a classe média insuflada pela escandalização.

A construção teórica-lógica-jurídica tem na #vazajato, que Glenn Greenwald foi distribuindo pelos jornais e revistas nacionais e internacionais, as provas cabais de tudo que a defesa de Lula vinha afirmando. Eles sempre tiveram convicções, agora têm as provas. Do outro lado, eles nunca tiveram provas, mas sobravam convicções, com essas manipularam o processo de forma absolutamente ilegal.

As consequências funestas da Lava Jato se sentem por todo o lado, um impeachment sem crime de responsabilidade, agitado pelas pela escandalização e prisões midiáticas. A economia a pique deu o argumento de que, com Dilma, o país era ingovernável, bastava tirá-la. Veio Temer e seu governo corrupto, sem investigações, era apenas a antessala de uma eleição manipulada.

O governo anencefálico de Bolsonaro é o produto último da República de Curitiba, seu representante-mor, vira, que ironia, ministro da justiça, logo aquele que manipulou de forma tão cruel os fundamentos de justiça. Hoje trabalha num governo assumidamente autoritário que defende valores de ruptura da Democracia, sendo o ex-juiz seu maior fiador.

A economia está um caos, miséria, desemprego, medidas absurdamente anti-civilizatórias assombram o mundo, tornam o Brasil alvo da desconfiança e do desprezo, vide os vexames na reunião do G-20.

Por fim, não custa lembrar, o governo ameaça a liberdade imprensa, futricando a vida de Glenn Greenwald, usando os seus órgãos para vasculhar sua vida fiscal, além de tentar imputar ao seu marido, o deputado David Miranda, PSOL-RJ, uma armação para assumir a vaga na Câmara Federal.

A cena do deputado Glauber Braga lastimando o juiz ladrão continua a soar alto, nessa quadrada.

 

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