O PODER DA MANIPULAÇÃO

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(*) Osvaldo Ventura

 

Com receio de utilizar mais uma vez a figura do comunista “devorador” de criancinhas, a elite brasileira, eterna inimiga irracional e raivosa de governos com viés popular, trocou de estratégia. No passado, aterrorizava as massas com o fantasma do comunismo ateu, que viria provocar a dissolução da família, a extinção da propriedade privada e causar a divisão de tudo, para estabelecer o caos.
Projetava-se, então, no âmbito das camadas desprovidas de informação, no meio dos inocentes-úteis e analfabetos políticos, que o Apocalipse estava sendo trazido no ventre do comunismo destruidor.
A partir de 2003, com um governo de tendência trabalhista no Brasil, e sem o “fantasma” do comunismo, fazia-se necessário substituir os velhos, desgastados e anacrônicos chavões pretéritos.
Então, surgiram novas alegorias de um antigo enredo, sem o ranço do anticomunismo, porém com maior capacidade de difusão de um moralismo tosco, de um fundamentalismo étnico e religioso envelhecidos, manipulando incautos e ingênuos, distorcendo fatos, disseminando aleivosias e transformando mentiras absurdas em verdades absolutas.
Tudo isso com a participação danosa e ostensiva do poder incontrastável das corporações midiáticas, de propriedade das classes dominantes nativas, quiçá, as mais conservadoras e coléricas ao Sul do Equador. Ressalte-se que é histórica a rejeição, por parte das elites dominantes brasileiras, de um presidente da república que venha demonstrar a mais leve vocação em defesa do trabalhador.
Assim, coerente com seu passado de só ter oportunidade de assumir o poder utilizando-se de métodos heterodoxos, a burguesia nacional assestou suas baterias contra as políticas públicas de inclusão social, implementadas com o objetivo de diminuir as desigualdades seculares.
Com a transformação de algumas das condições objetivas em favor do povo, as classes dominantes tupiniquim entenderam que havia necessidade de substituir o desacreditado discurso de ontem por outro, no qual o caráter ideológico ficasse menos explícito.
Desse modo, o pavor difundido por uma hipotética implantação do comunismo no Brasil foi substituído por um moralismo hipócrita, farisaico, odioso, como rejeição de cunho aristocrático e preconceituoso frente às conquistas populares.
A ponto de a burguesia condenar de maneira explicita o que considerava “ousadia ascensional dessa gente”. Era o temor de perder os privilégios históricos, que não mais se coadunam com os atuais princípios que regem uma plena cidadania.
Como resultado, por mais que se pretendesse disfarçar, reafirmou-se o eterno conflito de classe, trazendo para o centro da arena, inevitavelmente, o embate ideológico, sem máscara e sem dissimulação.

 

(*) Advogado, escritor
Membro da Academia Feirense de Letras

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