ESTADO, MERCADO E RENDA

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ESTADO, MERCADO E RENDA
Osvaldo Ventura (*)

Na década inicial do século XXI o Capitalismo Financeiro enfrenta a primeira crise de sua própria natureza: girar em torno de si mesmo para buscar sua sobrevivência. Com efeito, em 2008 o mundo assiste a quebradeira dos mais importantes bancos dos Estados Unidos, sendo a principal o pedido de falência do Lehman Brothers com o “subprime”. O neoliberalismo sem rédeas, a falta de regulação dos conglomerados financeiros e a ganância dos fundos especulativos levaram o sistema econômico mundial a esta situação de insana desordem.
Como era de se esperar, a condição de insolvência de grandes bancos atingiu o coração de vigorosas corporações empresariais, cujo efeito dominó, capaz de superar o crash da Bolsa de Nova York em 1929, foi evitado pelo socorro providencial do Estado Norte-Americano. Sem dissimulação ou constrangimentos, o governo americano aplicou recursos públicos na salvação da General Motors, poderosa empresa privada, outrora altar de efusivas referências do Deus Mercado. E com isso silenciou os exasperados neoliberais, que jamais admitiram a interferência estatal em atividades exclusivas do sacrossanto Mercado.
Para quem entende que o Mercado se autorregula, para quem acha que o Estado deve ficar distante da economia de um país, e não admite, sequer, sua participação como indutor do processo econômico, iguala-se a quem desconhece a existência do cisne negro e acha que todo cisne é branco.
A propósito, o que ocorre atualmente nos países Nórdicos é um exemplo perfeito de como o Estado pode, por meio de uma justa e democrática distribuição de renda, melhorar a vida de seus habitantes, sem criar obstáculos àqueles que desejam empreender.
Em última análise, na fase atual desse capitalismo selvagem, pode-se até admitir que o Mercado é quem melhor produz renda; mas, sem sombras de dúvidas, somente o Estado é capaz de distribuí-la, implementando políticas de cunho social. Em sendo assim, para se diminuir a estúpida concentração de renda verificada atualmente, mundo afora, fazem-se necessárias políticas estatais voltadas para amenizar as agruras dos menos favorecidos da sorte.
Enquanto a deletéria presença do Mercado permanecer dominando as relações econômicas hodiernas e aumentando as desigualdades sociais, a humanidade irá construir, em médio prazo, a maior catástrofe de seu pro-cesso civilizatório.
Nessas circunstâncias, a sombra da fome de Malthus estará nos espreitando; não pela escassez de alimentos, mas pela abundância mal distribuída deles, em função do precário poder aquisitivo da maioria da população mundial.
Aqui mesmo, em nosso país, a concentração de renda é simplesmente escandalosa e as desigualdades sociais revoltantes. Em vários continentes a onda de emigrantes, qual aves de arribação em busca de melhores condições de vida, tem demonstrado, neste momento, o que nos espera mais cedo ou mais tarde, lá na frente.
Afinal, como diz Thomas Piketty em seu “O Capital no século XXI” Pag. 551: …a riqueza privada se apoia sobre a pobreza pública…

(*) Osvaldo Ventura,  Advogado, escritor
Membro da Academia Feirense de Letras

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